Cobrar para mestrar/narrar, como assim?

Se você não está por dentro das polêmicas do mundo dos RPGs, é isso mesmo que você leu: há algum tempo atrás, passou a existir mestres que solicitam algum valor financeiro para emprestar sua voz a um grupo de aventureiros. De uns tempos pra cá, a quantidade de mestres que passaram a optar pela cobrança aumentou consideravelmente, chamando a atenção de parte da comunidade RPGista. E o quão errado é cobrar para mestrar ou narrar?

Cobrar para Mestrar
Arte de Guilherme Freitas, disponível no Artstation: https://guigfreitas.artstation.com/projects/3oqV8Y

Em nossa opinião, não é errado cobrar para mestrar. Muitas pessoas ainda tem a visão de que, para jogar RPG, você precisa estar sob a presença de seus amigos, sendo imoral realizar a cobrança em tais ocasiões – o que não é verdade.

Com o advento da internet, é possível jogar com pessoas que você nunca viu na vida, e até mesmo com pessoas que estão em outros locais do mundo. Um exemplo claro disso é na mesa Sombras da Guerra, narrado pelo Gruntar, um dos anciões das mesas online em terras tupiniquins. Nela, participam jogadores residentes em Curitiba, Rio de Janeiro, Brasília e Canadá. Isso mesmo, Canadá!

Por conta disso, pessoas que nunca tiveram acesso ao RPG puderam jogar por meio de plataformas online – como o Astral Tabletop, Roll20, RRPG Firecast e o Taulukko. No entanto, mesmo online, sempre haverá muitos jogadores para poucos mestres. Sendo assim, os “mestres de aluguel” surgiram como uma opção para essas pessoas. Além disso, esses mestres também surgem como opção em eventos de RPG, apresentando sistemas e experiências novas para aqueles que estão dispostos a pagar.

Dito isso, vamos elencar alguns motivos pelos quais os “mestres de aluguel” deveriam existir.

O trabalho

Se você é apenas jogador de RPG, tenho que te contar um segredo: ser Mestre é trabalhoso!

Um mestre normalmente precisa fazer as seguintes coisas:

  • Preparar a sessão;
  • Ler os livros do sistema;
  • Ler os livros da aventura (caso seja aventura pronta);
  • Ler os livros do cenário (ou criar seu próprio cenário, o que é mais trabalhoso ainda);
  • Criar e preparar props (música, efeitos sonoros, imagens e afins);
  • Instruir os jogadores sobre as nuances do sistema.

Como se isso não bastasse para que mestres possam cobrar para mestrar, vou te contar outro segredo: ser Mestre tem um custo financeiro!

Quando a mesa não se junta para arcar com os custos, normalmente o mestre arca com os custos oriundos de ser um mestre sozinho. E ele gasta com:

  • Miniaturas;
  • Livros;
  • Cópias das fichas;
  • Complementos (como Escudo do Mestre, Dice Trays, etc);
  • Dados;
  • O tempo empregado nas leituras e estudos (sim, tempo é dinheiro, como diria o Seu Sirigueijo).

Oferta x Demanda

Existe demanda para os mestres de aluguel. A oferta de mestres é escassa (isso é agravado longe dos grandes centros urbanos), principalmente para mestres de sistemas indies e sistemas fora do mainstream nacional. Um mestre de aluguel pode ofertar isso para grupos dispostos a pagar o preço ofertado. É a lei da Oferta e Demanda: se não houver demanda, a oferta deixará de existir cedo ou tarde, o que não acontece nesses casos.

O Livre Mercado

Você – e qualquer outro indivíduo – é livre para apoiar ou adquirir o serviço que bem entender. Embora isso possa soar como um papo anarco-capitalista, é a simples verdade: quem manda no seu dinheiro é você, e apenas você vai saber a real relação entre custo versus benefício de se adquirir tal serviço. Se valer a pena para você, ótimo, adquira o serviço! Se não valer, você pode procurar por mestres em grupos de Facebook – minha dica é que você procure em grupos relacionados ao sistema que você quer jogar ou em grupos da sua região.

A Experiência

Normalmente (e é importante parafrasear isso) um mestre de aluguel terá mais experiência/técnica do que um Mestre comum – entenda-se, que não cobra para narrar -, o que pode te trazer uma melhor experiência como Jogador.

O que é considerado um Mestre Profissional?

Perceberam que em nenhum momento até então nós usamos o termo “mestre profissional”, termo cunhado por pessoas que atacaram ou defenderam a cobrança? E o motivo é simples: o que define um Mestre Profissional?

  • Ser ou fazer parte de uma empresa (como a extinta Roleplayers)?;
  • Ser um mestre experiente?;
  • Ser um mestre com os melhores equipamentos do “mercado” (miniaturas, grids e afins)?;
  • Ser um mestre conhecedor de diversos sistemas?;

É difícil chegar a uma conclusão concreta sobre o que pode se considerar um mestre profissional ou não. Além disso, outras questões podem se originar sobre ser um mestre profissional, como por exemplo:

  • Qual é o requisito mínimo para se tornar um mestre profissional?;
  • O Mestre deve emitir uma Nota Fiscal de Serviços sempre que receber pelos seus serviços?;
  • Se o Contratante não se sentir satisfeito, ele pode pedir o dinheiro de volta? O que o Código de Defesa do Consumidor diz sobre isso?;
  • Deverá o Estado regular o serviço, para que não haja excesso de Mestres Profissionais, fazendo com que deixe de existir oferta de Mestres de forma gratuita?

São tantas dúvidas oriundas desse tema que precisaria de um novo post apenas para falar sobre Mestres Profissionais.

Concluindo…

Resumindo: não é errado cobrar para mestrar.

No entanto, entendemos que um excesso de mestres de aluguel possa ser prejudicial ao Hobby, por mais que a mão invisível do mercado possa distinguir os mestres bons dos ruins. A falta de oferta de mestres de forma gratuita pode elitizar o hobby e impedir que pessoas sem condições financeiras possam ter acesso ao nosso tão querido RPG.