Em algum momento da sua vida como jogador ou mestre, você já se deparou com a seguinte cena…

Mestre: Kiltias, você desfere um golpe fatal no Goblin Comandante, sua faca perfura a nuca da criatura e é possível notar a ponta de sua adaga surgindo em seu pescoço. A criatura se retorce de dor enquanto tenta falar, em vão – uma grande quantidade de sangue é expelido violentamente de sua boca, formando uma larga poça. Finalmente, ele se ajoelha e desaba, com a cabeça se chocando contra a poça de sangue, sujando suas botas com o líquido avermelhado. Enquanto você ainda observava o corpo do Goblin ajoelhado, você percebe uma espada brilhante em sua cintura.
Kiltias (Joãozinho, Ladino): Aproveitando minha furtividade 17, me ajoelho no sentido de ver os batimentos do Goblin, mas com a minha mão esquerda eu levanto levemente sua camisa, retiro a espada da bainha e coloco na cintura, por baixo da roupa.
Mestre: Tudo bem, permito que você utilize sua furtividade da jogada anterior. Você percebe que essa espada é mágica facilmente. Ela possui inscrições rúnicas que você nunca havia visto antes, mas algo lhe diz que isso é escrita anão. E você reforça essa tese pela coloração da espada, dourada. Você nunca viu nenhum metal que remete a essa cor.
Rand (Lucas, Guerreiro): Opa Mestre, eu não vi ele guardando a espada não? Quero ela pra mim!
Mestre: Sua Percepção Passiva é 13, você não viu ele guardando.
Rand (Guerreiro): Vou rolar Percepção, assim que o Ladino desferiu o golpe final, eu fiquei observando-o friamente para ver o que ele faria com o corpo.
Rolagem de dados, 4 no dado, total 7.
Mestre: O Ladino não fez nenhum movimento que lhe chamasse atenção, apenas se abaixou e verificou se aquele pobre Goblin está vivo ainda, mas pela cara do Ladino, ele provavelmente não pertence mais a esse plano.
Rand (Guerreiro): Affs, beleza então…
Kiltias (Ladino): Mestre, depois dessa cena do Goblin morto, chamo o clérigo para ter o aval de que ele está morto mesmo. Enquanto isso, volto à sala anterior e guardo a espada na mochila.
Rand (Guerreiro): Mestre, irei ficar observando o Ladino. Tô achando ele muito suspeito.
Mestre: Rand, você continua a fitar o Ladino. Até então, ele não fez nada digno de nota: Verificou se o Goblin ainda estava vivo, chamou o Clérigo para verificar se ele ainda está vivo e saiu da sala.
Rand (Guerreiro): Eu não vi ele guardando a espada?
Mestre: De forma alguma, ele saiu da sala e não fez nenhuma menção de abrir a mochila enquanto estava no mesmo aposento que você. Você quer sair da sala também?
Rand (Guerreiro): Não, não. Vou ficar na sala.
Oyt (Rafael, Clérigo): Sugiro um descanso, nunca imaginei que essas pequeninas criaturas verdinhas machucassem tanto.
Ignar (Gustavo, Mago): Concordo plenamente com o descanso. Aquele Goblin de machado me desferiu um tremendo corte.
Kiltias (Ladino): Não me oponho, podemos realizar o descanso.
Rand (Guerreiro): Por mim beleza. Como minha AC é muito alta, não recebi nenhum ataque. Posso fazer a guarda durante todo o descanso.
Mestre: Tudo bem. Vocês arrumam a sala, acendem a fogueira para se manterem aquecidos nesse inverno rigoroso, tiram os sacos de dormir da mochila e vão descansar. Rand, você pretende fazer alguma ação especial durante o tempo do descanso?
Rand (Guerreiro): Claro! Irei verificar a mochila do Ladino, tenho certeza de que ele está escondendo algo de mim!
Kiltias (Ladino): P@#$%! MESTRE, QUE SACANAGEM É ESSA???

Hoje, iremos abordar um tópico interessante e polêmico, o Metagame.

Jogadores realizando metagame
Arte de Will O’Brian/DeviantArt
Link para a arte

Tá, mas o que é esse tal de “Metagame”?

Metagame pode ser descrito como utilizar conhecimentos do jogador como se o personagem possuísse tais informações. Na cena acima, por exemplo, Rand o Guerreiro observou o Ladino e não encontrou nada que lhe chamasse atenção. Mas o jogador, Lucas, ouviu a descrição do mestre e sabe que o Ladino saqueou uma espada mágica. O personagem não sabe, mas o jogador detém tal informação. Logo, o jogador se utiliza de um conhecimento que o personagem não tem para adquirir vantagens para si. Se Rand não viu o Ladino guardar a espada na mochila, por qual motivo ele iria vasculhá-la?

O exemplo do troll aborda muito bem isso: dificilmente um personagem de 2º nível saberiar que trolls tem fraqueza à fogo, mas o jogador que controla o personagem sabe, e fará questão de alertar a todos do grupo para que utilizem objetos e/ou ataques que causem dano flamejante na criatura – permitindo que a derrotem mais rapidamente. Isso é metagame: usar conhecimentos adquiridos em off (fora do jogo), dentro do jogo!

Fazer utilização do metagame pode prejudicar a experiência dos outros jogadores (como na história do Guerreiro) ou prejudicar o andamento do jogo (como no caso dos Trolls). Em qualquer um dos casos, o metagame deve ser combatido ou nulificado. Então, vamos as dicas para evitar esse comportamento tóxico:

Mas por quê o jogadores usam o metagame?

Nós, mestres, precisamos entender que, embora o RPG seja uma atividade divertida, ele ainda é um jogo. Um jogo no qual você corre riscos, seja de perder seu tão amado personagem ou perder itens e afins. O metagame minimiza os riscos inerentes ao jogo. O exemplo do troll deixa isso claro: sabendo que ele tem fraqueza à fogo, derrotar um troll (que é um adversário perigoso em níveis iniciais) se torna uma atividade mais fácil e com menores riscos. Da mesma forma, uma espada melhor do que sua arma atual aumenta sua margem de acerto, melhorando seu dano e facilitando o processo de matar seus adversários.
Em resumo, Metagame faz com que você sobreviva mais no ambiente hostil do RPG.

Eles só estão tentando sobreviver ao mundo hostil que você criou…
Créditos: The Walking Dead

Mas como suprimir ou remover o metagame de seus jogos? Temos diversas dicas para você!

Alerte seus jogadores

O primeiro passo para nulificar o metagame em seus próximos jogos é alertar seus jogadores. Tenho para mim a máxima de que “as pessoas não saberão que estão errando enquanto você não avisá-las”. Salve mentalmente o momento que ocorreu o metagame e comente sobre esse fato no fim da sessão – deixando claro quão tóxico para o jogo este comportamento é.

Modifique as situações

Se você sabe que o grupo irá realizar metagame quando você inserir um troll no combate, por que não alterar a situação? Modifique as estatísticas da criatura e suas habilidades especiais!
Você pode aguardar o momento do combate, e, se o grupo cometer o famigerado metagame, improvise: um troll com resistência a fogo e fraqueza à gelo? Uma criatura aquática com imunidade a dano elétrico e fraqueza à fogo?

Quanto mais você condicionar seus jogadores que “nada é como deveria ser”, menor a propensão de utilizarem o metagame como uma ferramenta confiável.

Metagame RPG
Esse troll de gelo adquiriu fraqueza a dano gélido (???) e resistência a dano de fogo.
Créditos: Adventure Quest Worlds

Exija testes

Ainda assim seu jogador continua cometendo metagame? Passe a exigir testes de seus jogadores para determinar se o personagem detém tal conhecimento. Por exemplo, no caso da fraqueza de um troll, exija um teste de Sabedoria (natureza) para estabelecer se o personagem possui essa informação.

Pessoalmente não gosto de pedir testes, já que ele abre precedentes para outro tipo de metagame baseado em “eu posso realizar metagame à vontade, portanto que eu seja bem-sucedido no teste”. O jogo se torna muito artificial e você acaba gerando muitas rolagens de dado.

Puna o personagem

Se ainda assim o comportamento continuar, você pode partir para ações mais coercitivas. Se o problema voltar a ocorrer, puna o personagem com perda de pontos de experiência e recompensas. Novamente, aproveite o final da sessão e comente sobre o problema.

É importante que a punição não seja branda a ponto do jogador se sentir confiante em utilizar metagame em outras oportunidades, e pesada a ponto do jogador sair da mesa porque ele está muito atrás dos demais personagens em questão de pontos de experiência. Lembre-se que a intenção da punição é coagir o jogador a não utilizar metagame, e não transformar um jogador em um ex-jogador da sua mesa.

Puna o grupo

Se ainda assim o seu jogador ou grupo continuar realizando metagame, você pode optar por punir o grupo inteiro com XP. Ao punir todo o grupo, você (provavelmente) criará uma rede de defesa contra metagame que partirá do próprio grupo – que irá reclamar com o jogador que realizar essa prática. Novamente, a punição não pode ser muito branda, ou você fará com que o resto do seu grupo fique irritado com você.

Cancele a ação

Se a ação de metagame ultrapassar os limites do aceitável (como no caso do guerreiro vasculhando a mochila do ladino), você pode cancelar a ação em curso e deliberar que o personagem não fez a ação que o jogador descreveu. Embora soe muito autoritário (e eu não gosto de demonstrar autoridade como Mestre), às vezes essa atitude é necessária para evitar injustiças.

Jogando com a mentalidade errada

Por último, pode acontecer do seu jogador estar com a mentalidade errada para o jogo: muitos jogadores creem que o mestre é um adversário e que, por isso, a utilização de qualquer ferramenta é válida para frustrar seus planos. Embora o RPG seja um jogo, ele demanda certa colaboração e cooperação dos jogadores para que a sessão seja divertida não apenas para os jogadores, mas também para o mestre.

Se você já utilizou as dicas acima e, ainda assim, o jogador não está disposto a colaborar, e você, mestre, não está suportando suas atitudes, o melhor a se fazer é lhe dar um ultimato e expulsá-lo da campanha caso o metagame continue.

Essas dicas te ajudaram? Você tem outras sugestões para lidar com este problema? Deixe sua opinião nos comentários!

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